Os monstros marinhos
povoam o imaginário mundial há tempos. Ao observarmos mapas antigos, especialmente
os mapas medievais e renascentistas, iremos notar diversas criaturas bizarras
marcando vários pontos dos oceanos, anunciando uma jornada cheia de perigos a
serem enfrentados nas explorações. Outras figuras míticas comuns do mundo
antigo eram os animais que carregam ilhas, ou até mesmo mundos, em suas costas,
como a própria Tyrytyry Manha das lendas amazonenses. Em Fernando de Noronha,
os presidiários falavam exatamente disso, sobre um enorme monstro marinho,
parecido com uma ilha, o enigmático e traiçoeiro Monstro do Sueste.
Considerado um lugar
encantado, a calada da noite na Baía do Sueste causava pavores nos prisioneiros
do arquipélago. O horror tomava conta de todos; pescadores agoniados se
recusavam a passar sozinhos pelo local, ocupado por estrondosos rugidos de uma insólita
criatura dos mares. Os desavisados, encontrando águas tão calmas e repletas de
vida, logo se arriscavam a garantir o jantar. Atravessando o olhar pelo oceano
escurecido, ao avistarem uma ilha próxima, maior do que um casco de navio, logo
subiam nela para garantir uma posição privilegiada na hora da pesca – provavelmente
manipulados por um feitiço daquela coisa.
Naquele momento, ao se
acomodarem, o chão começava a estremecer, e o pânico a se manifestar. Era o terrível
Monstro do Sueste, que camuflava soturnamente seu arqueado dorso negro pelas
águas, como se fosse uma ilha. Uma “ilha” de pesadelos. Movendo-se para longe
com sua presa, em um caminho sem volta.
Com ilhotas em seu
horizonte, ali seria de fato um ótimo território para tal disfarce assombroso,
mas, hoje em dia, já não há mais relatos ou qualquer sinal da criatura.
Protegida por paredes rochosas, as águas da Baía do Sueste costumam ter ondas
fracas, além de abrigarem uma rica biodiversidade, como tubarões, arraias e bandos
de tartarugas. Com isso, o lugar é considerado um dos melhores para se observar
a vida marinha em Fernando de Noronha, recebendo muitos visitantes que, ao
menos agora, não se preocupam com o estranho monstro. Certamente ninguém
gostaria de encontra-lo em uma viagem dos sonhos.