sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Julunggul – Mitologia Aborígene Australiana

0 comments
Julunggul  Mitologia Aborígene Australiana

     Os aborígenes da Austrália veem-se como parte da natureza. Essas tribos possuem um grande respeito pelas cobras, fomentando diversas lendas que envolvem os répteis rastejantes, como as poderosas mulheres-píton, Kunyia, ou os venenosos homens-víbora, Liru, entre outras criaturas ofídias. Envoltos por uma mitologia animista, os aborígenes australianos contam sobre uma era, ou dimensão, sagrada conhecida como Tempo do Sonho, lar de grandes espíritos ancestrais totêmicos que, em forma animal e humana, moldaram suas terras. Uma das principais divindades desse plano ancestral é justamente uma cobra de proporções colossais que deu forma ao mundo que conhecemos hoje, dominadora do recurso natural mais precioso: a água.
    Falo de uma gigantesca serpente referida por vários nomes em diferentes tribos; Julunggul, Worombi, Ngalyod, Ungur, Wonungur, Yurlunggur, Wanampi, Muit, Galeru, Langal. Ou então, simplesmente chamada de Serpente Arco-Íris  (em inglês: Rainbow Serpent), por suas escamas coloridas como tal fenômeno. Para facilitar a leitura, optarei por referir-me a ela apenas como Julunggul. Visto que é a nomenclatura que me habituei a usar, pois é utilizada no primeiro livro sobre a lenda que tive contato, a edição de 2013 da obra “Aboriginal Myths, Legends & Fables”, do autor neozelandês Alexander Wyclif Reed, publicado originalmente em 1982. Citada na maioria das histórias como uma figura feminina, também é possível encontrar variações masculinas do mito, manifestado como Rei Cobra Worombi em algumas versões.

    Julunggul é uma divindade cultuada como criadora e preservadora da vida, da água, e da fertilidade. Mediante seu movimento subterrâneo surgiram serras e cordilheiras. A maior prova de sua existência, segundo os aborígenes, é a forma dos rios que teriam surgido conforme ela rastejava de maneira ondulante sobre a terra. Um dos mitos mais difundidos da Julunggul cita que a divindade emergiu de um olho d'água durante o Tempo do Sonho, e vive nos poços de água do deserto, viajando entre eles como portais divinos. Outra variação sugere que ela desceu dos céus e que, movendo-se dentro das nuvens, pode provocar chuvas e tempestades. Dizem que quando um arco-íris surge, trata-se da Julunggul atravessando o céu.
        Essa divindade era adorada em forma de danças e cantos, sem oferendas. Na Austrália Central, o povo aborígene Pitjantjatjara afirma que a serpente vive no topo de Kata Tjuta (Mount Olga), descendo durante a estação seca. A Julunggul também é vista como símbolo de vida e renovação. Nestas histórias, a transição da adolescência para a vida adulta ocorre quando os jovens são engolidos pela gigantesca serpente, e propositalmente regurgitados como adultos.
       O poder dela sobre a vida e a morte no deserto australiano ainda permanece. Sendo o centro de cerimônias e histórias fantásticas, adorada como uma criatura benigna. Representações de ataques da deusa são escassos. A lenda da poderosa Julunggul não era contada além das tribos até pouco tempo atrás – isso ainda ocorre com alguns mitos e criaturas do Tempo do Sonho –, somente seus líderes poderiam recitar tais histórias. Atualmente o acesso às lendas aborígenes ocorre a partir das próprias tribos, que nos contam suas crenças milenares através de sua arte. Trazendo à tona o belo mito da Serpente Arco-Íris.

Nenhum comentário:

Postar um comentário