O majestoso Magdalena é considerado o maior afluente e
principal rio da Colômbia, desembocando no mar do Caribe. Ele é tido como uma
fonte essencial de pescado no país, logo, suas margens são frequentadas por
muitos pescadores colombianos. Em meio à fartura fornecida pelo rio, um desses
pescadores conheceu um desagradável destino, sua imoralidade o condenou a
transformar-se em uma criatura excêntrica, batizada pela população ribeirinha como
El Hombre Caimán.
Segundo os moradores do município de Plato, há muito tempo havia
um pescador indecente que escondia-se entre os arbustos para espionar as belas
mulheres que banhavam-se ou lavavam suas roupas nas rasas águas do rio
Magdalena. Em muitas versões da história, o depravado pescador recebe nome e
sobrenome: Saúl Montenegro.
Dizem que o homem começava a temer pelo dia em que seria
notado, já pensando em alternativas para continuar com seu passatempo obsceno
de forma discreta. Ele resolveu procurar por um poderoso feiticeiro nas terras
de Alta Guajira, com a intenção de tornar-se um jacaré em seus momentos de
bisbilhotagem no rio. Ao encontrar-se com o feiticeiro, recebeu duas poções; a
poção vermelha o transformaria no animal, enquanto a poção branca o traria de
volta à forma humana. Desde então, o pescador passou a utilizar dessa magia em
suas inúmeras idas e vindas até o rio, sempre auxiliado por um amigo que lhe aplicava
a poção.
Certa vez, esse amigo não pôde acompanha-lo, então o
pescador pediu ajuda a outro colega – aquele homem não conseguia livrar-se de
seu hábito imoral, nem ao menos por um dia. Chegando no rio Magdalena, a poção
foi utilizada, dando início à sua transformação. Sem fazer ideia do que estava
acontecendo, e extremamente assustado ao deparar-se com a figura animalesca, seu
novo ajudante logo derrubou a poção branca no chão, respingando algumas gotas
na cabeça do réptil. Naquele momento, o pescador se viu transformado permanentemente
em uma figura bizarra; seu corpo permaneceu como o de um jacaré, porém, sua
cabeça voltou à forma humana – algumas versões também acrescem aspecto humano
aos braços, ou a todo o tronco da criatura. Depois disso, nenhuma mulher
retornou ao local para banhar-se; todas temiam um encontro com aquela figura
grotesca.
Sua lenda tornou-se patrimônio cultural do município de
Plato, onde o ser folclórico ganhou uma praça e monumentos em sua homenagem. Também
é comemorado anualmente o “Festival del Hombre Caimán”, que ocorre no mês de
dezembro, com apresentações musicais e desfiles, expressando a cultura da costa
caribenha da Colômbia. Seu mito também está presente na tradicional canção “Se
Va El Caimán”, do compositor colombiano José María Peñaranda. Com sua popularidade
incontestável, o personagem carrega o fado de ser aquele que cobiçou tanto as
mulheres do rio, ao ponto de transfigurar-se no repugnado Hombre Caimán – marcando
a sina dos pervertidos.