Ao descobrir os segredos ocultos da
imortalidade, um pajé transforma-se definitivamente na figura bestial, fétida,
e antropófaga do Mapinguari. Carregando o fardo de sua forma resultante, dentre
as criaturas que integram o ciclo dos monstros do folclore brasileiro, o
Mapinguari destaca-se na Amazônia como o terror dos seringueiros, o predador
dos caçadores – sua lenda é poderosa. Há quem também afirme que a criatura
seria o destino final dos indígenas anciãos, transformados na monstruosidade, situação
similar à lenda do Capelobo.
A principal característica física do
Mapinguari é sua descomunal boca vertical, que vai do nariz ao estômago, munida
com milhares de dentes; o monstro também possui um único olho central. Humanoide
de mãos compridas e garras afiadas, ele é descrito como uma imensa criatura
simiesca, com uma pele maciça tal e qual um casco de tartaruga, ou espessa feito
um couro de jacaré, conferindo ao Mapinguari invulnerabilidade à balas ou
flechas. Seu corpo rígido é revestido por uma pelagem negra em algumas versões,
e avermelhada em muitas outras. Toma características de outros entes folclóricos
do Brasil, como o Gorjala e o Pé de Garrafa – preteridos por ele em diversas
regiões –, bem como em algumas versões também surge com os cascos virados para
trás, assim como os pés do Curupira.
O Mapinguari emite gritos altos e curtos, utilizados
também para encontrar os caçadores que o respondem. Dizem que durante a noite ele
dorme, pois, ao contrário da maioria dos monstros, possui hábitos diurnos. Os domínios
dessa criatura bizarra e peluda estendem-se pelo Pará, Amazonas, e Acre. Vagando
em meio à Floresta Amazônica acompanhado de sua fome insaciável e sua aparência
grotesca, exala um odor pútrido e insuportável, procurando por suas presas,
principalmente ao entardecer. Em lábios enrubescidos banhados de sangue, a
monstruosidade segue mascando a cabeça (alimenta-se apenas desta parte) de suas
vítimas com sua bocarra anômala, após um ataque brutal.
Apesar de sua invulnerabilidade já citada anteriormente,
existe uma única forma de penetrar o corpo do Mapinguari e detê-lo, que é atingindo
seu umbigo. O umbigo é um clássico ponto fraco dos monstros brasileiros, pois
esta relacionado ao sinal de nascimento, a uma condição mortal. Vale salientar
também que algumas versões da lenda trazem o Mapinguari como um ser que ataca
aqueles que não se resguardam aos domingos e dias santos, saindo para a caçada,
contudo, é explícita a influência das tradições católicas nestas versões; o
fato é que sua origem é indígena, oriunda das misteriosas matas da Amazônia.
Tido como um dos monstros mais originais do
bestiário brasileiro, sua lenda vem ganhando uma crescente popularidade, além
de atrair a atenção dos criptozoólogos. Assim, dentro da criptozoologia, o
Mapinguari passou a compor um seleto grupo de criptídeos primatas, ao lado do norte-americano
Pé-Grande, do nepalês Yeti, além do Yowie, das lendas australianas.
Outros estudiosos acreditam que os
avistamentos da criatura estejam ligados às preguiças-gigantes que viveram
durante o período Pleistoceno. A extinção da espécie ocorreu há mais de 10 mil
anos, porém, o paleontólogo argentino Florentino Ameghino sugere que algumas
delas tenham sobrevivido e ainda habitem a Floresta Amazônica, dando origem ao
mito. Por mais de 20 anos, David Oren, ornitólogo norte-americano, pesquisou e chefiou
inúmeras buscas na expectativa de encontrar o extinto mamífero, ou o ser
folclórico. O pesquisador não conseguiu nenhum resultado conclusivo. Portanto,
o mistério ainda continua, sobre o mais popular dos monstros da Amazônia: o
Mapinguari.