Quando a escuridão da noite está
prestes a cobrir as terras mato-grossenses, dizem vagar uma silenciosa figura anciã
e maltrapilha, o fantasmagórico Tibarané. De forma inesperada, ao escutar o som
do assobio da criançada, tal figura desagradável surge, aproximando-se calmamente
com sua voz grossa e soturna pedindo fumo. Se receber o que pede, logo
desaparece. Contudo, aqueles que não satisfazem seu pedido são capturados e
levados para longe; também há quem diga que terão de aguentar sua assombrosa
presença pelo resto daquele dia.
A exigência do fumo, presente na lenda
do Tibarané, é bastante comum entre os seres do folclore brasileiro, traço que
acompanha criaturas fantásticas como o, ou a, Caipora e o Curupira. Segundo relatos,
o Tibarané manifesta-se sob a forma de um velho indígena muito enrugado e mal
vestido, todo esfarrapado, porém, sua lenda também apresenta uma outra versão, bem
diferente. Dizem que na verdade é uma ave noturna com assobio de criança. Um
pássaro agourento que castiga aqueles que assobiam à noite – aparentemente, só
ele tem o direito de emitir seu sutil e contínuo canto.
Também é possível encontrar uma versão
que conecta essas duas variações. De acordo com a história, quem se deparar com
os voos do Tibarané ao anoitecer deve fazer um pedido à ave encantada, prometendo
um pedaço de fumo em troca. Realizado o pedido, na noite seguinte surgirá um
homem de feição fechada, pronto para receber algo. É ele, o fantasma do
imaginário mato-grossense; o velho Tibarané, cobrando sua tão esperada recompensa.