Conhecida como um dos
símbolos da região amazônica, a Vitória-Régia é uma das maiores plantas
aquáticas do mundo. Flutua graciosamente sobre a superfície da água, podendo
chegar até incríveis 2,5 metros de diâmetro com seu formato circular. Curiosamente
as flores dessa planta abrem-se em todo seu esplendor apenas ao anoitecer,
criando para os povos indígenas da região Norte uma forte relação entre ela e a
lua. Muitas vezes regida por crenças celestes, a humanidade sempre interpretou
os astros em diversas eras e culturas, atribuindo-lhes inúmeros simbolismos e
mistérios. Partindo dessa conexão entre a Vitória-Régia e a noite –
representada pelas estrelas e o luar –, temos a lenda indígena de Naiá.
De origem tupi-guarani, a
lenda descreve Naiá como a mais bela de sua tribo. Uma jovem encantadora que de
tanto contemplar o céu apaixonou-se por Jaci, que era a própria lua. Crescera
ouvindo que de tempos em tempos Jaci descia à terra para buscar jovens virgens
de belezas indescritíveis e transformá-las em estrelas que subiam aos céus e lá
permaneciam; grandiosas e esplêndidas, como se estivessem dançando de forma
dignificante e gloriosa uma mesma melodia celestial junto à entidade,
ocasionando belas noites estreladas.
Com toda sua pureza e constantemente
encantada pelo luar, Naiá decidiu dedicar todo seu tempo e amor à Jaci. A jovem
admirava Jaci todas as noites, seus olhos brilhavam ao observar a gloriosa
entidade aparecer e desaparecer no horizonte, sublime em todas as suas formas.
Durante o dia Naiá não fazia mais nada, sequer comia ou bebia, apenas esperava
a noite chegar. Ao anoitecer, seguia inerte e fascinada por Jaci, olhando para
o alto, apenas esperando pelo dia em que seria a escolhida para ser levada aos
céus.
O tempo passava e a jovem
indígena ficava cada vez mais fraca. Certo dia, exausta, Naiá não aguentou,
caiu às margens de um lago e ali adormeceu. Acordou no meio da noite, ainda um
pouco confusa, mas logo foi surpreendida. Naiá viu o reflexo de Jaci no lago,
uma exuberante lua cheia que iluminava aquelas límpidas águas, criando uma
atmosfera graciosa. Deslumbrada, acreditou que a entidade estava realmente ali
na sua frente, que finalmente havia sido escolhida por ela. Então, rapidamente
atirou-se nas águas, na tentativa de tocar Jaci, mergulhando para as
profundezas do lago. A enfraquecida Naiá afogou-se tragicamente, sem nunca
encontrar Jaci.
Esse triste destino
sensibilizou Jaci, que transformou Naiá em uma estrela, como a jovem tanto
queria. Mas se engana quem pensa que a bela indígena foi transformada em apenas
mais um em meio a incontáveis corpos celestes. Naiá tornou-se uma estrela ainda
mais especial, uma estrela das águas; tornou-se a magnifica flor do Amazonas, a
admirável Vitória-Régia. Desde então, com a lua refletida nos lagos, todas as
noites ela se encontra com Jaci. E assim, a Vitória-Régia abre suas flores, com
toda sua admiração pelo luar.