quinta-feira, 25 de junho de 2020

Carreta Sin Bueyes – Folclore Costa-riquenho

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Carreta Sin Bueyes  Folclore Costa-riquenho

       Ícones da Costa Rica, os multicolores carros de bois de duas rodas, também conhecidos como las carretas, exalam euforia e arte com suas cores vivas e pintadas a mão, embelezando as ruas e os caminhos rurais do país, transportando principalmente café. Essa tradição de decorar os carros de bois é passada de pai para filho, tornando-se parte essencial da cultura costa-riquenha, agindo também como uma representação de sua forte agricultura. No entanto, todo o colorido alegre desse meio de transporte contrasta com uma obscura e assombrosa história que também envolve um carro de bois, ou melhor, um carro sem bois, a lendária e profana Carreta Sin Bueyes.
       Percebe-se uma forte presença de seres fantasmagóricos e de bruxas no folclore da América Central, e nesta lenda não é diferente. Com diversas versões da história da Carreta Sin Bueyes, uma delas fala sobre um desejo proibido de uma bruxa por um homem muito religioso.
     Diz a lenda que na antiga San José – capital da Costa Rica –, em meio a vilarejos e ruas desniveladas, vivia uma bruxa, que nutria uma paixão singular pelo rapaz mais belo da cidade. O rapaz era um cristão fervoroso, bastante devoto, e a figura horrenda da bruxa não lhe despertava sentimento algum que não fosse medo e repulsa. Todavia, após algum tempo, ele foi enfeitiçado por ela, apaixonando-se perdidamente por aquela que até então condenava.
     A notícia da relação dos dois logo espalhou-se, ganhando a reprovação de todos, sendo considerados pecadores pelo padre local, que passou a pregar constantemente contra essa união. Após um longo tempo vivendo juntos e reclusos, o rapaz envelheceu e adoeceu; ele já havia se tornado um ser tão horrendo quanto a própria bruxa. Mesmo enfeitiçado, aquele homem mortiço mantinha sua fé cristã, e assim seria até os últimos dias de sua vida. Dessa forma, diante daquela doença incurável, fez um último pedido à bruxa. Pediu para que quando morresse recebesse os sagrados ofícios da igreja da cidade.
       Ela atendeu ao pedido e, já prevendo a morte de seu amado, foi conversar com o padre; porém, o mesmo foi irredutível e negou veementemente o pedido. Voltando desolada para seu lar, não demorou para a bruxa ver o amor de sua vida sucumbir ao gélido abraço da morte. Enfurecida pela negativa do padre, colocou o caixão com o corpo de seu marido em um carro de bois, e ordenou aos animais que partissem em direção à igreja. A bruxa seguiu junto deles, empunhando um facão em uma mão e uma vassoura em outra. Ensandecida, dirigiu-se instalando um clima denso pela cidade.
       Os bois seguiram em disparada, mas quando chegaram à porta da igreja encontraram o padre, que bradou: “Em nome de Deus, parem!”. Instantaneamente os animais pararam e ali permaneceram, porém, a furiosa bruxa prosseguiu blasfemando contra o sagrado. Escolha perversa e irreversível. Os obedientes animais foram perdoados pela graça divina, mas a bruxa e seu finado marido foram condenados a perambular como almas melancólicas e pecaminosas, vagando eternamente e sem perdão em seu amaldiçoado carro de bois. Ainda hoje, no terrível silêncio da escuridão, pode-se ouvir o som de suas rodas gastas e envelhecidas, numa toada lenta e triste, sem qualquer animal puxando-o, enquanto vagueia pelas ruas de San José.

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