Se observarmos o
bestiário fantástico mundo afora notaremos a presença de diversas criaturas que, em sua aparência, talvez não apresentem
características físicas que as singularizem perante um animal comum. No entanto,
tais criaturas são detentoras de habilidades especiais que as destacam como figuras
míticas, seja por sua pele intransponível ou por sua velocidade impressionante,
ou até mesmo por distinções ainda mais peculiares, como na lenda grega das éguas
antropófagas de Diomedes. Assim, no folclore brasileiro temos a intimidadora e vigorosa
Onça-Maneta, acompanhada por sua ferocidade inconsequente.
Exceto pelo marcante fato
de não ter uma das patas dianteiras, não há mais nada que diferencie a aparência
da pavorosa Onça-Maneta em relação a uma simples onça-pintada. O mito não lhe
confere tamanho gigantesco ou traços antropomórficos, entretanto, são seus atributos
sublimes que chamam atenção e a tornam lendária. Dizem que sua força é
espantosa e sua agilidade transcendente. Também causa temor por sua intensa fúria
e seu apetite insaciável, maiores do que de qualquer outra de sua espécie. Em
um arranque brutal, como uma besta incontível e tomada pela raiva, ela faz
inúmeras vítimas por suas caçadas
aos rebanhos, caçadores, e viajantes dos estados de Minas Gerais e São
Paulo, devorando o que vê pela frente e assolando os currais. Assustadoramente
afoita, ela não tem medo de nada, é impossível caça-la.
Folcloristas suspeitam
que sua lenda tenha se originado a partir de um fato real. Possivelmente houve na
região Sudeste uma onça que perdeu uma de suas patas durante uma luta contra caçadores,
conseguindo fugir dos terríveis homens e suas matilhas de cães onceiros. Certamente
irada pela dor que sua ferida causava, seguiu guerreando contra roceiros até sua
contestável morte. Com seus inconfundíveis rastros vistos até hoje, causa pânico
nos caçadores, que mal conseguem segurar suas armas, temendo um ataque
descontrolado da folclórica Onça-Maneta.