sábado, 17 de outubro de 2020

Anta Esfolada – Folclore Brasileiro

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Anta Esfolada  Folclore Brasileiro

        Não se enganem pela injustiça que a língua portuguesa faz ao trazer significados pejorativos ao seu nome, pois a anta na realidade é um animal muito inteligente e robusto. Maior mamífero do Brasil, ela também carrega no fabulário brasileiro um papel de força física e arrebatamento orgulhoso. Sua figura é tão relevante e presente em nosso folclore, que tem relação até mesmo com a fundação da cidade de Nova Cruz, no interior do Rio Grande do Norte.
      No início do século 17, os primeiros moradores que ali chegaram logo se instalaram às margens do rio Curimataú. Primeiramente o local foi chamado de Urtigal, pela grande quantidade de urtigas ali existentes. Depois, devido à história que contarei a seguir, teve seu nome mudado para Anta Esfolada.
      O município potiguar era repleto de fazendeiros, que viam o sólido e resistente couro da anta como um excelente material para sandálias e bruacas. Abatiam o pobre animal incessantemente. No entanto, dentre todas elas, existia uma anta indomável. De contornos fantásticos, seu corpo avantajado exalava uma aura maligna, desnorteando os caçadores e rondando pelas casas, com arranques velozes e urros amedrontadores. Diziam que o caçador que capturasse tal criatura teria muito azar.
      Ainda assim, houve um homem que desafiou a sorte. Esse tarimbado caçador conseguiu pegá-la numa armadilha. Feliz da vida, pensando que sua tarefa estava quase cumprida, decidiu arrancar a pele do animal ainda vivo. Empunhando firmemente sua faca, quando deu o primeiro talho, viu o bicho sair em disparada, fugindo para dentro da mata. Ao olhar para suas mãos ensanguentadas, percebeu que todo o couro do animal tinha ficado para trás. A anta havia sobrevivido, sem pele. Exibindo-se grotescamente com as carnes à mostra.
      Depois daquele fatídico dia, tudo piorou. Por vários anos, a Anta Esfolada assombrou a cidade, que ficou conhecida pelo nome do monstro. Sua terrível presença era facilmente percebida por um rastro de sangue e gordura deixado em cada passo que dava com sua repulsiva musculatura exposta. Muito mais enfurecida, reinava por aquelas paragens, ainda em disparada e roncando alto; envolvendo-se em inúmeros relatos de terror. Exaustos com aquela situação, os moradores locais tiveram a certeza de que havia toda uma atmosfera diabólica envolvendo a cidade. Com isso, um missionário foi chamado para exorcizar aquelas terras.
      Em sua cerimônia, combateu a entidade corrompida, bradando palavras sagradas e aspergindo água benta por todos os cantos visitados por ela. Ao final, com galhos de inharé vindos de Santa Cruz, ergueu uma grande cruz no ponto mais alto do caminho por onde a criatura costumava fazer suas incursões. Desde então, o nome Anta Esfolada foi deixado de lado. A cidade foi nomeada definitivamente como Nova Cruz, e a monstruosidade nunca mais apareceu.

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